quinta-feira, 4 de setembro de 2008

De onde vem a ética?

e o mais importante, para onde ela vai??

Ética:
é.ti.ca
sf ( do gr ethiké)

1. Parte da Filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana. É ciência normativa que serve de base à filosofia prática.
2. Conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão; deontologia.
3. Ética social: parte prática da filosofia social, que indica as normas a que devem ajustar-se as relações entre os diversos membros da sociedade.


Moral:
mo.ral
adj (do lat. morales)

1. conjunto de costumes e opiniões que um indivíduo ou um grupo de indivíduos possuem relativamente ao comportamento;
2. conjunto de regras de comportamento consideradas como universalmente válidas;
3. parte da filosofia que trata dos costumes e dos deveres do homem para com o seu semelhante e para consigo;
4. ética;
5. teoria ou tratado sobre o bem e o mal;
6. lição, conceito que se extrai de uma obra, de um facto, etc. ;s. m.,
7. conjunto das nossas faculdades psíquicas;
8. o espiritual; adj. 2 gén.,
9. relativo aos costumes;
10. que diz respeito à ética;


Ok. Ética vem do grego.

Mas não foi isto que eu perguntei.

Agora, antes que qualquer um se pergunte quem sou eu - jovem, indecisa, de cabelo colorido, sem-religião, tatuada e com piercing - para falar de ética?

Ora. Eu estudei ética como filosofia durante dois anos. E me considero uma pessoa boa, uma pessoa justa e uma pessoa honesta, baseada nas convicções da sociedade em que vivo. Eu sou ética, e sou moral.

E não sou religiosa.

E nunca fui.

Eu sou meu próprio exemplo para justificar o que digo. E por isso mesmo falo com tanta convicção do assunto. E, obviamente, adoro declarar isso aos quatro ventos, para que as pessoas percebam que existe moral e bons costumes fora da Igreja. Pessoas, simplesmente por serem seres humanos inseridos numa sociedade, podem observar e aprender, e comportarem-se moralmente.

Quando nasci, fui batizada mais para agradar meus avós e familiares mais religiosos, do que por crença ou vontade de meus pais. Tanto meu pai como minha mãe cresceram num ambiente altamente religioso, por influência de seus pais, mas, crescendo, tornaram-se bastante céticos. Nunca os vi rezando. Nunca houve adornos religiosos na minha casa. O contato que tive com a religião católica foi através das mesmas pessoas que eles, meus avós. A mãe de minha mãe morava numa outra cidade com meu avô, numa casa enorme e antiga. Lembro-me que íamos visitá-los todos os finais de semana. A casa era enorme, ainda mais para uma criança pequena como eu, e era misticamente assustadora e instigante...

Todos os quartos tinham terços junto às camas. Havia inclusive um pequeno armário de madeira escura tramada, que revelou-se ser, na verdade, a entrada para uma pequena capela. A mesma coisa acontecia na casa de meus avós paternos, principalmente por causa de minha avó - que era a pessoa com quem eu mais conversava. Ela tentou me ensinar a rezar, a agradecer a Deus pela comida, a usar um terço. Eu bem que tentei, mas não via nada de engrandecedor, nada de mágico e, evidentemente, nada de útil naquele ritual todo.

Sempre me perguntava por que era necessária toda aquela parafernalha para fazer contato com o tal de Deus. Pelo que eu sabia e pelo que ouvia falar no colégio, na remota época em que tinhamos aula de "Humanismo e Ecumenismo" (que na verdade era uma ladainha que nos obrigada a entender a vida de Jesus Cristo), Deus era um cara - ou uma coisa - que era superbondosa, superpoderosa e imaterial. Era uma entidade que pertencia a todos, sem exatamente "pertencer" a ninguém. Era uma força que estava lá, sendo tudodebom, sendo fonte de bons pensamentos e de iluminação pra quem quisesse ou precisasse.

E eu me perguntava por que as pessoas iam na Igreja pra isso. Uma Igreja não tem nada a ver com essa força de bondade e pureza. Uma igreja é uma casa de tijolos diferente, onde não se mora, onde existem estátuas e quadros e gente cantando em coro. O que (diabos) isso faz de bom? Eu era criança, mas não era idiota. Não tinha sentido algum aquela aglomeração toda, aquele livro complicado de ler e os colares de bolinha. Palavras feitas pra quê?

Para mim, naquela época, para falar com Deus, para ser inspirada por bondade, eu só precisava de mim mesma. Era dentro de mim, na minha mente ou alma - que seja -, o lugar onde estava o caminho para o tal do céu. Que Igreja que nada. Usei a bíblia pra segurar peso. Deus estava em todo o lugar, então ele estava em mim também e eu analisei a logística do negócio. Era bem mais em conta eu simplesmente meditar.

Conforme fui crescendo, vi meus colegas entrarem na tal da Catequese, depois fazerem a Crisma. Via eles falando de Jesus, via meus professores nas tais aulas (que não eram de religião) falando de Cristo e passagens bíblicas... E ficava pensando se todos tinham merda na cabeça. Por que fazer tudo aquilo, se o que eles queriam estava dentro de todos eles, em sua essência? Me indignava que quisessem que eu acreditasse naquilo tudo. Eu estava crescendo e percebendo como aquilo era simplesmente um costume cultural. A verdade, a essência de tudo era universal, e não se detinha em pequenos e insignificantes rituais e hábitos importados.

Comecei a ouvir falar de outras religiões. Comecei a ler sobre outras culturas. Algumas delas tinham hábitos e costumes totalmente diferentes, mas buscavam a mesma paz, a mesma bondade. Ou algo equivalente a isso.

Por quê? Por que as pessoas buscavam estes meios, lições e lendas para justificar um ato de bondade??

Como eles não sentiam que a bondade, a justiça e a compaixão era algo inerente ao ser humano, que precisava somente se dar conta de que, agindo assim, sua vida seria mais feliz, mais rica e mais gratificante?

Porra. Era óbvio.

Então eu larguei a religião da vovó de mão. Não era verdade. Ao menos, não era A verdade. A minha verdade era outra. Eu acreditava em alguma outra coisa. Acreditava em algo de puro e belo dentro de mim, e ponto.

Nesta época, aprendi mais sobre a história do cristianismo. A religião motivou massacres, estupros, adultérios, genocídios, ignorância e bestialidade.

E ainda vinham me entregar um livrinho com o novo testamento pra ler... Mas! Eram muito estúpidos achando que eu ia ler aquilo tudo e esquecer de todas os atos de horror e mentiras que vieram da interpretação daquelas palavras. Jogava o livro na gaveta e segurava a vontade de exacerbar minha indignação na sala de aula. Todos ali pareciam muito crentes naquele joguinho milenar.

Eu não tinha nada contra o carinha principal do livro, sabem, Jesus Cristo. Acho ele um cara afudê. Isto mesmo. Acho ele foda, se é que ele existiu (se não existiu, estou cagando - então digo que ele é um personagem afudê, do qual podemos tirar muitas boas lições pra vida).

Ele ia lá, na dele, e falava com as pessoas, não importa quem fossem. Não importa se achavam ele um hippie maluco, um mendigo sem noção, ou um baita putão cheio de frescura. Não, ele não ligava. Ele só tinha percebido que a resposta para uma vida harmoniosa, feliz e gratificante era a bondade, a generosidade e a compaixão (eu particularmente tenho o palpite de que ele não foi o primeiro nem o único a se ligar disso, mas então deve ter sido o primeiro engajado que se deu bem). A partir dessa noção, ele saiu perambulando e falando isso pras pessoas, tratando-as bem, sendo gentil e explicando que é assim que se deve viver pra tudo ser bom pra todo mundo. E as pessoas, obviamente, que também concordavam com ele, o seguiram.

Só que tinha uma porrada de gente sem-noção, ignorante, que estava muito bem obrigado sendo cavala, mal educada, mentirosa. Então estes não acharam legal essa história de bondade. Soava como um lifestyle que lhes tiraria o poder e ameaçaria a ordem e hierarquia que lhes garantia riqueza e prazer. Essa era uma galera egoísta e filha da puta. Estes aí eram amorais. Ao menos, não tinham moral se analisarmos a sociedade em que vivemos hoje. Talvez, naquela época, isso fosse muito normal, todo mundo conformado, embora desconfortáveis e infelizes.

Então. O tal Jesus. O cara ia lá, conversava, cativava e era legal. Porra, um cara legal fazendo coisas legais e favores... Ele quer algo em troca, certamente. Mas... Nop! Ele não queria. WOWOW. Peraí... como assim, alguém faz algo por outra pessoa e não pede nada em troca?? Isso não existe.

Pensa assim? Você é um escroto.

Isso existe. É o tal "ame o próximo como a si mesmo". O motto do negócio. O princípio da engrenagem que ele estava tentando explicar. Simplesmente seja generoso, tenha compaixão, ame, e seja verdadeiro nisso. Se todos assim agirem, imagine quanta bondade e amor não ia ter pelo mundo?? Seria o máximo. E eu adoro esse conceito, essa frase.

Isto foi tudo que adotei do catolicismo. O resto todo foi pro lixo.

Sabe o que aconteceu? Sim, você sabe. Pregaram o tipo na cruz, rolou uns milagres, todo mundo se borrou pra isso e hoje em dia um pastor da Igreja Universal fica a madrugada toda na Band (ou na Record, não sei ao certo) cuspindo na sua cara como você é sujo e impuro e que só Jesus salva.

Só Jesus mesmo pra salvar você, eu hein. Pena que ele morreu há dois mil anos e você nunca aprendeu direito o que ele quis dizer.

Pra quem não sabe, aí vai uma notícia que vai cair como chumbo:

A Igreja é a maior e mais antiga empresa de desvirtuamento que há. Papa, lá no fundo o sr. pode até ser bonzinho mesmo, mas é muito sem visão. A Igreja é uma instituição que fez o seguinte: pegou UMA frase que realmente espelha o sentimento e a mente do tal Jesus e deixou no livro. Depois, encheu de histórias drogadas imbecis de como a humanidade é suja, horrível e que devem se submeter à Igreja e fazer tudo que eles ditarem como correto para se redimir, ou queimam no inferninho.

E, o mais engraçado, é que eles engabelaram uma GALERA com essa aí.

Até hoje. Tanto que minha vózinha ainda reza todo o dia. Ainda bem que ela não vai mas na Igreja.

E agora você e eu temos que agüentar santinhos, livrinhos, badulaques, pastores e aleatórios pregando sermões na TV, no rádio, na rua... Por acaso eles acham que Jesus fazia assim? Eles por acaso dizem as mesmas coisas que Jesus? Óbvio que não. Ninguém sabe exatamente o que Jesus disse, começa por aí. Mas se ele era um cara tão legal, era tão bondoso, não ia ficar cuspindo e fazendo sessões do descarrego em ninguem, sai pra lá.

Me dá vontade de rir de tudo isso, porque nenhum deles pegou o espírito da coisa. E porque alguém como eu, tão "esteticamente controversa", é capaz de ter mais da integridade que Jesus gostaria que as pessoas tivessem do que eles jamais terão.

Não os culpo, porque são ignorantes. Não sabem disso, não conseguem ver fora do limite de visão que foi imposto a eles e que eles aceitaram e se acostumaram a acreditar como sendo o único mundo existente.

Agora, tendo definido a piada que foi a construção da religião católica até os dias de hoje, eu volto à época onde comecei a aprender sobre outras religiões.

Adolescente, cheia de energia e bofetadas verbais pra soltar por aí, eu estudei as principais religiões do mundo. Haviam várias outras com livros nos moldes da Bíblia. Haviam várias outras com opiniões e interpretações diferentes sobre as mesmas passagens da Bíblia, e por isso eram distintas da Católica Romana. Havia o Islamismo, com o Corão, outro livrinho filhodaputa cheio de tendencias dominadoras e dualidades. Havia umas sem livros propriamente ditos, mas textos aleatórios. E também aquelas sem o conceito de Deus, com muitas divindades ou nenhuma. Eu particularmente gostei do Budismo, mas nunca quis me adaptar para adotá-lo.

A partir de experiências, do uso da lógica e do conhecimento, construí minha identidade religiosa - ou melhor, minha identidade não-religiosa. Construí, também, minha noção de certo e errado, de bem e mal. Adaptei-a ao comportamento da sociedade em que vivo e percebi quantas pessoas se desvirtuavam, desobedeciam e ultrapassavam os limites do que era considerado "bom", virtuoso e correto. Criei minha integridade, com valores e virtudes que valorizo, dentre elas se destaca o respeito.

Respeito:
res.pei.to
sm (do lat. respectus)

acto ou efeito de respeitar;
reverência;
deferência;
consideração;
modo de ver;
apreço;
atenção;
importância;
submissão;
ponto de vista;
aspecto;
causa;
relação;
direito, justiça, razão;
temor.

Isto é a base para uma pacífica e plena co-existência humana.

Incrivelmente, este é o aspecto mais falho no ser humano. Ninguém sabe como respeitar completa e corretamente o outro. A gente é egocêntrico, prepotente e, geralmente, caga tudo.

E quanto a isso, não há solução. Dá só pra apaziguar, ensinando o respeito e sua importância. Deveria haver aulas de respeito e virtude nas escolas (e nas empresas, porque mais do que ninguém, os adultos é que são verdadeiras antas). Talvez isso ajudasse um pouco, mas nós humanos somos naturalmente tão falhos em nossa mente e na construção de nossos valores que a eficiência disso seria questionável o tempo todo. Mas a humanidade nunca vai poder fugir disso. Nós cagamos tudo. Sempre. Coletivamente falando, eventualmente, cagamos o mundo.

Todo mundo sabe. Quem não lê livros de história, assiste notívias na TV ou escuta algo no bar. Mas sempre é isso: cagar. Fodemos tudo. Explodimos pessoas, estupramos, matamos, falamos a coisa errada na hora errada, acreditamos nas coisas sem pesquisar bem sobre elas, atropelamos cachorros, somos racistas e intolerantes. Somos um bando de merdas. Mas ninguém se presta a nos ensinar que podemos ser merdas maravilhosas, que podemos nos fazer felizes e encher o mundo de amor.

A gente pode. Mas ninguém faz porque, hoje em dia, essa história de respeito, compaixão e amor ao próximo é "coisa de boiola". Ah... as definições culturais da sociedade. Sempre cagando, vejam só.

Ninguém pensa no bem maior. Ninguém pensa no pobre Jesus como pessoa. Ninguém percebe que uma Igreja é só uma construção, um prédio alugado, e que ninguém deve dinheiro - principalmente isto! - a uma instituição que se diz baseada nos ensinamentos cristãos. Bullshit.

Sou fã de Jesus e não sou católica. Desprezo o tal do Vaticano. De lá, só admiro as obras de arte e seus pintores, mas não por sua conotação e temática religiosas, e sim pela habilidade humana de criar arte e beleza.

Sou fã de buda, de Ghandi. E não sou hindu, nem budista, nem nada mais. Acho interessante os valores da wicca, acho magicamente atraentes e fascinantes as lendas celtas, vikings e gregas. Da mesma maneira, acho incrível a contrução mística dos egípcios e outras civilizações antigas. Tenho um livro sobre todas as divindades e crenças Japonesas. Sou curiosa por umbanda.

E daí?
Tudo isto faz parte do mundo onde vivo e constrói a realidade de muitas pessoas ao meu redor. E se quero respeitá-las, devo aceitar suas crenças e aprender com elas a ter mais pontos de vista. Infinitos, múltiplos, que me aproximem de enxergar o todo que é o mundo de relações humanas.

Acredito que respeito é a base de tudo. E que amor deveria ser incondicional, dedicado a qualquer ser humano, qualquer animal que se queira amar, qualquer árvore, elemento, lugar, objeto, desde que seja puro, altruísta. Acredito em compaixão. Acredito que o bando de merdas que somos pode transformar-se em belas flores que nunca vão murchar.

Temos chances, mas tendemos a nos sabotar. Quisera eu que a grande maioria no mundo dividisse estes ideais comigo, mas sei que é exatamente o contrário. Somos a minoria, mas mesmo assim não desistimos de nossos valores. São eles que nos engrandecem.

Nosso sonho é de um paraíso aqui, na terra. Sabemos que a vida poderia ser feliz.

Só que a gente fica de saco cheio de ver que poderia ser tão simples, mas por causa do acaso e da cegueira coletiva e ignorância, as pessoas continuam, basicamente, cagando tudo.

É triste, mas é vero.

Odeio chegar a essa conclusão, mas sou cética como meus pais. A gente vive nesse ritimo, senão somos atropelados pelo fluxo. Mas somos aqueles que acreditam que dentro de si está o segredo da paz, da felicidade e da plenitude. A moral e a ética estão na consciencia coletiva das pessoas. Se a religião rotula isso como SEU ensinamento, estão apenas roubando e manipulando mais uma noção comum para si, como sempre fazem - as vezes, por um bom motivo.

Mas, no fim das contas, até hoje a gente só fez rachar a própria cara. Não importa quantas religiões existiram, quantas idéias foram espalhadas, as pessoas acabam pegando a idéia errada. E aí, adivinha: cagam.

Onde já se viu, desde quando ética é definida por religião?

A moral guia as bases para a criação de qualquer religião. E religião é algo criado pelo homem.

Dã.