quarta-feira, 1 de outubro de 2008

"Ninguém tem direito a negar aos outros seu modo de vida, mesmo que não concorde com ele, porque todos têm o direito de viver a vida que desejam, desde que não prejudiquem o outro. A discriminação não tem lugar nos Estados Unidos, meu voto será pela igualdade e contra a Proposta 8"
(Brad Pitt em um comunicado publicado pelo Los Angeles Times)


Agora é assim. Um passo pra frente, dois para trás.


A tal Proposta 8 que o Brad (ui, intimíssima) acima cita é um referendo que visa a revogação da lei que autoriza a união civil entre pessoas do mesmo sexo na Califórnia. Bom, a história toda, resumindo, é: em junho, finalmente, uma lei que permitia o "casamento gay" foi aprovada no estado americano. Logo depois, hordas de pessoas - que, aparentemente, não têm mais o que fazer de suas vidas a não ser se preocupar com as dos outros - colheram assinaturas para que esta lei fosse derrubada. O resultado: as assinaturas foram suficientes para que a lei passe por uma nova avaliação. Agora o bicho pega.

Eu, particularmente, concordo em número e grau com as palavras do nosso amigo Brad Pitt ali em cima. Todos têm o direito de viver a vida que desejam, desde que não prejudiquem o outro.

Todos. Eu, você, o vizinho esquisito do prédio ao lado e o tio da pipoca. Se uns gostam de um tipo de pessoa, seja ela do mesmo sexo ou não, problema deles. Desde quando se meter na vida alheia se tornou tão obssessivo? Ou até mesmo digno?

Houve também esta história do aborto no Brasil. O pessoal da Igreja não tem nada a ver com as leis do aborto facultativo - o seu pessoal não aborta e ponto - e mesmo assim, ficam aporrinhando o saco de quem quer simplesmente ter o direito de escolha.

Agora, um pessoal que se diz cheio de "moral e bons costumes" vem apporrinhar 0 saco dos homossexuais. Sério. Só pode ser falta do que fazer. Eles (os caretinhas) não serão obrigados a casar com pessoas do mesmo sexo; provavelmente nunca vão precisar freqüentar os mesmos lugares, nem serão presos numa cadeira à la Clockwork Orange e obrigados a assistir à cópula gay. Então por que diabos eles se importam?? Tédio? São do-contra?
Sei lá. Parecem-me todos gente loca.

Não encontro explicação coerente para esta linha de pensamento. Para mim, o que o Brad Pitt disse (que, por acaso, é o que eu e muitas pessoas que conheço sempre pensaram) é tão lógico e correto que estas manifestações de ignorância e atraso me parecem bárbaras e inexplicáveis.

Pra que este esforço todo? Para fazer os outros infelizes. Só isso. Só pode ser isto.

Os seres humanos são sádicos (não tem uma penca de gente fascinada com um cara pregado vivo numa cruz, açoitado, com uma coroa de espinhos cravada na testa e furado por uma lança?? Eu hein!). E os deste tipo - aporrinhadores de saco como os citados acima - são os mais sádicos e cruéis deles. Eles proíbem que certas pessoas tenham a possibilidade de serem felizes e normais como são. Porque elas SÃO assim. E negar o que se é dói, e muito. É a maneira mais fácil de se garantir infelicidade vitalícia.

Acredito que, se não houvesse esse preconceito e pré-julgamentos pejorativos sobre o homossexualismo, bissexualismo ou pluri-sexualismo (whatever) e a sociedade pudesse ver tudo isso com normalidade, pelo menos metade das pessoas teriam relações deste tipo. Esta é uma certeza que tenho (já ouvi e vi tanta coisa que tenho fundamentos para minhas suspeitas). As pessoas não fazem (ou o fazem secretamente), embora sintam vontade, porque temem a opinião e o julgamento dos outros. Se esta opinião social fosse indiferente, voilá. A ministra teria uma nova namorada depois de se divorciar do marido que se apaixonou pelo motorista; o reitor da universidade seria pai de família, casado com o juiz e as meninas teriam namoradinhas na escola.

E eu acho tudo isso maravilhosamente normal. É como deveria ser, como eu gostaria de viver e como gostaria que as pessoas que amo pudessem agir, sem represálias.

Veja só, minha utopia também não me obriga, nem a ninguém, a me relacionar com pessoas do mesmo sexo. Mas torna a possibilidade plausível e tão comum como ver um casal heterossexual de mãos dadas num parque. Isso é a verdadeira conquista de liberdade e felicidade para todos.

Se o mundo é um só, e se somos todos 'irmãos', por que desrespeitar a felicidade dos outros? Para que intrometer-se nela e proibí-la? Estamos sabotando nossa própria felicidade. Enquanto poderíamos estar em harmonia, cada um sendo do jeito que é, perdemos tempo, dinheiro e esforço boicotando uma condição/escolha íntima de pessoas que nem conhecemos.

Essa gente devia é ir para Darfur ajudar refugiados do genocídio (genocidas, aliás, são o último grau dos intolerantes - da mesma raça dos aporrinhadores!); dar instrução e educação às crianças do terceiro mundo para que tenham uma chance de um trabalho digno e evolução social na vida; baixar a níveis plausíveis as tarifas protecionárias de suas economias para que os países pobres possam se desenvolver exportando mesmo comodities; incentivar a criação e desenvolvimento de tecnologia e bens de alto valor agregado em economias emergentes, distribuindo conhecimento e treinamento voluntário; e investir na conscientização do respeito, do conceito de urbanização e desenvolvimento humano sustentável, para que não destruamos tudo que resta de realmente belo e puro no planeta.


Mas não. Eles fazem abaixo-assinados contra o vizinho que mora com seu amor há 12 anos e agora vai poder casar com ele de verdade.

E ainda acham que estão fazendo uma baita coisa pelo mundo.

...
Gente escrota chega a me dar coceira! Argh!!

Um comentário:

Anônimo disse...

faço das tuas palavras as minhas. por favor, sociedade contemporânea minha gente... achei que já teríamos passado por cima de tanto preconceito infundado. E o pior é que esse tipo de extremismo só tende a piorar por parte dos acéfalos revoltados com a vida dos outros. deve ser até uma coisa meio psicólogica muito profunda, do tipo, 'não sou feliz, ninguém tem o direito de ser feliz também.'