quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Vendo a Autobiografia de Ninguém Especial

Hoje (e, admito, em alguns 'ontems' também) quis ser bem ególatra. Quis parecer uma celebridade... e escrever uma auto-biografia.

Não consigo evitar. Às vezes penso que eu poderia ter sido tanta coisa.

Quero dizer: tantas outras coisas. Tão diferentes do que sou de fato.

Poderia ter sido mais e melhor. Ou poderia ter sido pior. (Mas sempre acho que poderia ter sido mais "melhor" do que mais "pior", se é que isso faz algum sentido.)

Claro, sei que, na teoria, posso mudar a qualquer momento. Qualquer um pode. Basta mudar de idéia, se esforçar e correr atrás de um novo tipo de raciocínio; uma nova maneira de encarar o mundo.

Já provei tantas formas de enxergar as coisas que, por vezes, penso que poderia escrever um bendito livro. É, poderia. E olha que gosto de escrever (só minha inércia datilográfica e mental que me impede de escrever um monte de lhufas nonstop 12 horas por dia - isto, é claro, porque nas outras 12 horas eu prefiriria dormir como uma pedra).

Mas esta é outra das coisas que eu poderia ter sido. Ou gostaria de ter sido.

Hoje não sou nenhuma das coisas que sonhei em ser. E isto é uma conclusão trágica que assusta muito...

"Como vim parar aqui, se fiz de tudo pra ir por outro caminho?", eu me pergunto todos os dias. Creio que há mais gente no mundo que tem o mesmo tipo de pensamento. Estes somos nós, os infelizes... E classificada neste grupo, justo eu, que sempre lutei tanto para fugir do fracasso de uma existência falsa e forçada.

Talvez eu não tenha sido persistende o bastante, ou não sou simpática/confiável/cool o suficiente (e não sou mesmo). Talvez, simplesmente tenha sido falta de sorte.

Ou, o atributo mais provável para levar alguém ao fracasso... Social skills: 0

Já vi gente reclamar disso de barriga cheia "Ai, sou introvertida". Tem gente que diz que é. Tem gente que gosta de sentir pena de si mesmo, parece. E outros acham charmoso parecer anti-social. Mas, mal sabem eles das agruras da vida daqueles que simplesmente são mesmo, introvertidos, de verdade, 100%. Se soubessem como é, não diriam que são "introvertidos" aos 4 ventos da boca pra fora. Ser anti-social dói e prejudica, numa sociedade onde o contato, o progresso e o sucesso exige a boa convivência e os bons contatos. Digo por experiência própria. E digo para ninguém, veja só o infortúnio.


E não estou exagerando. Até consigo, por vezes, vencer no social, mas dou pra trás rapidinho. Já tive muitos amigos, conhecidos, fãs, seguidores, admiradores, colegas, inimigos, invejosos, sabotadores... Mas é sempre por curtos períodos, sempre passa. Depois de um tempo, acabo com 3 ou 4 amigos com os quais realmene consigo lidar. (Parece-me com aquelas tentativas efêmeras de fazer dieta; funciona por algumas semanas, depois volta tudo de novo.) Ô sanfoninha pé-no-saco!

(Salvo 3 criaturinhas... Sem as quais eu estaria, verdadeiramente, sozinha comigo mesma - e nada seria mais terrível!)

Mas bem, eu ia dizendo... escrevendo... sobre escrever. Isto.


Já fui mais articulada com palavras, numa época onde o fervor pela proximidade do Vestibular fazia com que as escolas impusessem aos alunos aulas extras de redação. Lia-se, escrevia-se, depois relia-se e reescrevia-se. Sem parar, sem parar, sem parar. Apesar do tédio dos temas impostos, foi uma época onde exercitei a gramática à perfeição. E, defenestrando a modéstia, eu escrevia muito bem (embora não diga que era a melhor, porque simplesmente não era).


Agora estou enferrujada, tanto no desenho quanto na escrita. Ainda assim, queria poder contar tantas coisas sobre o que penso, o que vi e o que, de fato, vivi. Sobre o que aprendi sobre eu mesma e sobre os outros.


Admito que, até os 16 anos, minha vida não valia a pena ser contada. Não tinha acontecido nada de grandioso, nada de "oh" diferente, fora tragédias básicas do mundo moderno. Mesmo que eu fosse diferente, não agia diferente.

Ao final de meus 16, coisas começaram a mudar. Fui percebendo que se continuasse como estava indo, ia acabar infeliz, fingindo ser o que eu não era: parte da maioria.


Foi o começo da minha vida. E a partir daí é que tenho vontade de escrever. Pôr num livro histórias anteriores a isso, seria apenas uma eficaz maneira de matar alguém de tédio - ou torrar-lhe a paciência com dramas e traumas de uma família "quebradiça".


O que me impede, além de sentir uma vergonhazinha ingênua de me expor, é achar que tudo isso não passa de egoísmo. Ora. Se uma pessoa é realmente tão brilhante que mereça que sua história seja contada, alguém irá se dignar a fazê-lo...

Assim eu pensava, até ver que estavam lançando as auto-biografias de praticamente todos os ex-participantes do Big Brother.

QUÊ?


Porra. Se eles podem escrever sobre como vieram dando/capinando/comendo/coçando por aí até chegar num programa de TV e fazer nada além de um monte de intrigas e putarias pra todo mundo ver... Pô, eu posso contar como viajei por aí sozinha com uma mochila, entre outras coisas mais-ou-menos legais. Não?

Depois dessa, a coisa é praticamente uma questão de honra!

Se o fizesse, teria muita coisa que ia se exorcizar de mim, apesar das pedradas que iria levar.


Penso quem ia ler um negócio desses? Acho que só alguns outros do tipo "ninguém especial", como eu. E, dentre estes, somente os desocupados e curiosos da espécie. Como disse, não consigo me manter muito popular. Acho que é genético. Hoje em dia tudo é genético.

Talvez minhas 3 criaturinhas alfabetizadas preferidas leriam. Mas, se eu fosse realmente sincera, provavelmente algumas das histórias machucariam alguns deles... E nestas horas, me pergunto se valeria a pena; o meu auto-exorcismo contra meus segredos ruins bem-guardados.

No fim das contas, posso estar apenas delirando (não seria a primeira vez). Talvez (é provável) eu nunca faça algo deste tipo, como várias das outras coisas que queria ter feito.

Pelo menos, a vontade de falar sobre, esta eu matei aqui e agora.



Um comentário:

Anônimo disse...

Sabe que me identifiquei muito com teu texto...
Sempre fui muito de escrever, divagar sobre qualquer coisa, faz bem uns 14 anos que tenho o hábito de ter agendas, para do nada, as vezes pegar e escrever. E também bate aquela vontade de "abrir isso pro mundo" mas ao mesmo tempo, sinto o mesmo egoísmo em não querer dividir e, penso que ninguém iria ler, salvo raras excessões. e, acho que esse egoismo, essa coisa de amizade seletiva é algo um tanto quanto necessário hoje em dia, num mundo em que cada vez menos conhecemos BEM as pessoas a nossa volta.h